Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?
Sempre que pode
foge prá rua
cheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se
com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva
desesperado.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.
Quando abro a porta corre para mim
como acorre a mulher aos braços
do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri,
com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados,
em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas,e rosna,rosna,
deliquescente,abraça-me e adormece.
Eu não tenho gato,mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu
morresse?
António Gedeão
sábado, 21 de julho de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Quem pode ficar indiferente a um ser humano que gosta de gatos, poesia e pintura. Que tem um sentido de humor especial ( para o calado ) e que há uns anos ( mais de vinte )chamava de amigo.
Foi bom encontrar-te, mesmo que virtualmente.
Um bjo.
Enviar um comentário