Gatos "Um gato vive um pouco nas poltronas, no cimento ao sol, no telhado sob a lua. Vive também sobre a mesa do escritório, e o salto preciso que ele dá para atingi-la é mais do que impulso para a cultura. É o movimento civilizado de um organismo plenamente ajustado às leis físicas, e que não carece de suplemento de informação. Livros e papéis, beneficiam-se com a sua presteza austera. Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual." («Perde o gato» crónica de Carlos Drummond de Andrade)
Gatinho
Os gatos das amigas
Uma aldeia ouve desolada o canto do pássaro ferido. É o único pássaro da aldeia e foi o único gato da aldeia que o devorou por metade E o pássaro deixa de cantar O gato deixa de ronronar E de lamber o focinho E a aldeia faz ao pássaro Um funeral maravilhoso E o gato que foi convidado Segue atrás do pequeno caixão de palha Onde o pássaro morto vai estendido Levado por uma menina Que não pára de chorar Se soubesse que isso te deixava tão triste Disse-lhe o gato Tinha-o comido inteiro E depois contava-te Que o tinha visto partir a voar A voar até ao fim do mundo De onde tão longe que é Nunca ninguém volta Seria para ti um desgosto mais pequeno Unicamente tristeza e saudades Nunca se devem deixar as coisas a meio. Jacques Prévert, trad. de José Lima in Diversos 10, Outono 2006, Revista de Tradução e de Poesia, Edições Sempre-em-Pé